Era uma manhã comum como todas as outras. Uma
manhã de terça-feira. Seunome gostaria de ter acordado de uma forma
corriqueira, mas sua maneira não foi a melhor de todas. Acordou ao ouvir seu
celular tocar e em um disparo acabou pegando-o e tacando pela janela.
-
Droga mais um. - Seunome murmurou após realmente acordar.
Sentiu
o gosto que se passava em sua boca, era gosto de sono e iogurte. Por que tomou
aquele iogurte antes de dormir?
Se
levantou e andou descalça até seu banheiro, no caminho sentiu algo cutucar seu
pé seguido de uma dor latejante, mínima, mas incomoda. Ao passar a mão nele
sentiu algo pontudo e puxou. Era um dos caquinhos do espelho que ela havia
quebrado “acidentalmente”. Um pouco de sangue saiu do corte, nada com que
tivesse que se preocupar.
Ela
se despiu e após isso se arrepiou ao sentir o vento frio da manhã entrar pela
sua janela.
Entrou
na banheira e tomou um banho rápido. Após se arrumar, sem ter o auxílio do
espelho, já que fora proibida, ela desceu as escadas.
No
caminho até a cozinha viu seu antigo piano tampado por um pano, aquele piano
lhe trazia más lembranças.
Ao
chegar a cozinha notou como os empregados estavam agitados, porém apenas pegou
sua tigela e colou seu cereal e leite, ignorando todo o café recém-preparado
para ela, ela odiava comer coisas requentadas.
Após
isso se sentou e os viu andar para lá e para cá com bandejas e produtos de
limpeza.
-
Sarah, o que esta acontecendo? - Seunome perguntou com a boca cheia.
-
Você não me escuta mesmo, né criatura?! Seu irmão Darwin tá voltando da
Inglaterra. - Sarah respondeu, impaciente.
-
Ah. - Seunome disse sem emoção.
Por
um tempo observou Sarah, ela era uma mulher magra. Sua pele era branca e tinha
olhos castanhos. Não era muito alta e nem muito nova. Mantinha sempre no rosto
uma expressão de seriedade.
-
Aliás, seu psicólogo ligou. Hoje é dia de seção e é para você ir na delegacia
também. - Sarah disse tirando Seunome de seus devaneios.
-
Ok, parece que eu vou ver o delegado, DE NOVO! - Seunome respondeu sínica.
-
Se controle desta vez, não pode mas ir para a prisão, lembra? - Sarah disse
repreendendo Seunome.
-Para
deixar claro, da última vez não foi culpa minha. - Seunome disse com um sorriso
irônico.
-
Não, claro que não. Aquele álcool e os fósforos saíram andando do supermercado
sozinhos porque estavam cansados de ficar nas prateleiras e depois resolveram
que seu bolso era um lugar divertido para se ficar. - Sarah disse com o mesmo
sorriso que ela.
-
É obvio que foi isso, por que eu roubaria álcool e fósforos? - Seunome disse
tentando parecer curiosa.
-
Não sei, me diga você sua delinquente juvenil. - Sarah disse e então saiu da
cozinha.
Seunome
revirou os olhos e terminou de comer seu cereal. Notara que naquela manhã havia
falado muito mais do que estava acostumada, mas isso quase sempre acontecia
quando ela falava com Sarah. Era divertido desafiá-la.
Após
isso se levantou e chamou Charlie para que pudesse partir. Charlie era seu
chofer, mas ela odiava que fizessem coisas por ela então resolveu que iriam de
metrô.
-
Esta pensando que vai aonde sozi... - Sarah começou a dizer mas se
alto-interrompeu e depois disse – Ah, esta levando Charlie. Vai de carro?
-
Não. - Ela respondeu seca e se foi.
Desde
que havia saído do hospício, Seunome estava proibida de sair na rua sozinha,
sempre deveria levar alguém, mesmo que já fosse maior de idade.
No
caminho o silêncio os acompanhou. Seunome pensava em como seria a vida dela
depois daquele dia. Não porque fosse lhe acontecer algo de interessante mas sim
porque ela sabia, a cada novo dia estamos sujeitos a mudanças e surpresas, em
um único dia sua vida pode mudar por inteiro.
Ao
chegar na delegacia, Seunome sorriu. Só havia mais uma pessoa no mundo que ela
gostava de desafiar e esta pessoa estava dentro da delegacia. Ao passar pela
porta pode ouvir uma discussão vindo mais de dentro.
-
Delegado, eu já disse, eu não fiz nada de errado. - Seunome ouviu uma voz
masculina dizer.
Ela
se posicionou atrás dá porta para que pudesse escutar a discussão e fez um
sinal para que Charlie ficasse calado.
-
Não, não. Apenas estacionou em local proibido. DE NOVO! - delegado Harris disse
irônico.
-
Ah, pelo amor de Deus, eu só estacionei em local proibido. Me de uma multa, mas
não tire meu carro nem não me prenda. - o autor da voz masculina respondeu,
estressado.
-
Não vou, se você pagar sua fiança, é claro. Esta já é a décima multa que recebe
e ainda não pagou nenhuma.
-
E quanto tenho que pagar?
-
2 mil dólares.
-
2 o que?
-
É isso ou cadeia, ou se preferir serviço, comunitário. Junto com os
delinquentes juvenis.
-
Delinquentes juvenis como eu senhor delegado? - Seunome disse agora, saindo de
trás da porta e interrompendo a discussão.
-
Estava ouvindo a conversa Senhorita Allen? - o delegado Harris disse arqueando a sobrancelha.
-
Não responda minha pergunta com outra pergunta. - Seunome retrucou enquanto
mexia nos pertences de um dos oficiais.
-
Esta bem Senhorita Allen, mas pare de mexer na mesa do oficial Carter.
-
Como quiser amor. - Seunome disse irônica e mandou um beijo e uma piscadinha ao
delegado.
-
Pare com isso vadia, sou casado. Ele disse levantando sua mão e mostrando sua
aliança.
-
Ei, eu ainda estou aqui. O rapaz que até então estava calado disse com uma cara
confusa.
-
Eu sei, por que não foi embora ainda? - Delegado Harris perguntou.
-
Porque ainda não resolvemos isso.
Então
delgado Harris e o rapaz desconhecido por Seunome começaram novamente uma
discussão, a qual ela já sabia o resultado. Enquanto discutiam, Seunome
observava o garoto. Como ele desafiava o oficial da lei aparentemente sem medo
mas ela podia sentir, ele estava com medo.
Seunome
possuía um tipo de sexto sentido, sempre sabia quando as pessoas estavam ou não
com medo, por este mesmo motivo ficava extremamente irritada quando não
admitiam ter medo dela. Era sempre assim, ou as pessoas teriam medo dela e não
admitiriam ou usariam esse medo e a tratariam como lixo.
A
certa altura ela estava cansada daquela discussão, se levantou e foi até eles e
então disse:
-
Rapazes, acho que já chega por hoje. Escuta moço - Ela chamou o rapaz
desconhecido e continuou - Vá ao banco saque o dinheiro ou faça serviço
comunitário, não é tão ruim assim. - Seunome fez uma pausa olhou para o
delegado Harris, então disse - E você não tem que discutir com ele. É delegado.
-
Ela tem razão, decida-se Senhor Hutcherson. Delegado Harris disse.
-
Tá bem, eu vou pagar essa droga. Mas espere eu ir no banco.
-
Vá logo.
Assim
o rapaz saiu e ficaram Seunome, o delegado Harris, Charlie e o oficial Carter.
Seunome esperou calada enquanto o delegado mexia em uma das gavetas de sua
mesa. Ela começara a ficar sem paciência a essa altura. Ah, como ela queria um
bolo, ou quem sabe seu namorado.
-
Bem, aqui está. - o delegado disse lhe entregando um papel.
Ela
apenas observou o papel e piscou algumas vezes em resposta.
-
Isto minha cara é a carta que declara que este é seu ultimo dia de serviço
comunitário.
-
Esta falando sério? - Seunome disse um tanto surpresa.
-
É claro que estou, parece que estou brincando?
-
Com essa sua cara gorda e esse bigode branco me faz lembrar o papai Noel, então
sim, sempre parece que esta brincando. - respondeu ironicamente.
-
Cale a boca, sua inútil. Delegado Harris respondeu bravo e depois continuou -
Bem, você só tem mais hoje e depois finalmente vou me ver livre de você.
-
Considere como seu dia de sorte. - Seunome respondeu séria.
-
Eu só te peço um favor...: não arrume encrenca. Não quero ver você aqui de
novo.
Seunome
respirou fundo, segurou-se, então caminhou para mais perto dele e lhe disse
seriamente:
-
Delegado Harris, depois de me conhecer a tanto tempo deveria saber que o único
favor que eu faço a seres humanos como o senhor é dividir meu oxigênio.
Por
um minuto o homem a sua frente ficou pálido. Seunome sorriu vitoriosa, andou
até um banco que havia na delegacia e esperou que os papéis fossem assinados.
Depois
de certo tempo tudo estava pronto. Seunome naquele dia teria de limpar o
parque. Nada de especial. Foram seis meses, de serviço comunitário, 8
horas por dia. Todo santo dia. Hoje era o último deles, mas Seunome não se
sentia feliz ou animada por isso, aquilo não fazia a mínima diferença na sua
vida. Já havia limpado muitos parques, pichações. Havia ido a creches, servido
sopa, ido a igrejas e asilos. Mas nada daquilo a afetava, nem de forma boa ou
ruim.
Seunome
laçou um último olhar gélido ao delegado Harris e caminhou até o carro da
polícia, onde o oficial Carter a levaria para seu destino.
Chegando
lá avistou uma mulher vestida com o uniforme da polícia, e um cara excêntrico
algemado ao lado dela. Quando se cumprimentaram a mulher soltou o homem
excêntrico.
-
Ruivinha cuide do lado norte do parque e você, maluco, cuide do lado sul. - a
mulher uniformizada disse sem hesitação.
Seunome
apenas pegou seu equipamento de limpeza e foi-se. Seu equipamento era composto
por um colete, um saco de plástico e um tipo de bastão com um ferro afiado na
ponta, usado para espetar o lixo. Ela não sabia o nome daquilo.
Por
horas ela simplesmente ficou a limpar calada, e começou a sentir uma fome
imensa a certo ponto, mas teria que limpar aquele parque primeiro. De repente
ouviu uma voz masculina dizer:
-
Você conhece o delegado Harris?
Quando
se virou era o homem excêntrico. Seunome apenas acenou com a cabeça como
resposta.
-
Ele é bonito, não?! - o mesmo homem comento.
-
Acho que sim, depende muito do gosto. - respondeu estranhando a pergunta.
-
Está dizendo que ele não é bonito?
-
Claro que não, ele é o cara mais delícia que eu já conheci. - Seunome disse
sarcástica.
-
Não fala assim do meu homem. - o excêntrico retrucou.
-
Seu homem? Uau, boa sorte para você então, “querida”, pois ele já é casado.
-
NÃO É, NÃO! - O homem a sua frente gritou e então deu um tapa no rosto de
Seunome.
Agora
ela havia entendido, provavelmente o cidadão a sua frente tinha algum problema
mental, assim como ela. Mas por algum motivo sua raiva começou a lhe subir, mas
era o último dia ela tinha de se acalmar.
-
Ok. Ele é seu, fique com ele e volte ao trabalho. - disse, tentando se conter.
Seunome
se virou e começou a andar, de repente sentiu um empurrão e caiu de cara no
chão.
-
Você esta com o cheiro dele, sua vadia. Andou pegando ele, não foi? - o homem
disse de novo.
Seunome
se virou - ainda tentando conter sua raiva -, levantou e caminhou até o homem,
se preparou para dizer alguma coisa, porém foi interrompida. Sentiu uma enorme
fincada no pé, o que lhe proporcionou muita dor e teve vontade de gritar, mas o
homem a sua frente tampou-lhe a boca, ao olhar para o próprio pé percebera que
o cara a sua frente havia espetado seu utensílio de limpeza no pé dela. O
sangue escorria e ela sentia dor. A vontade de gritar foi ainda maior, mas não
ousou soltar um ruído. Tudo que fez foi arrancar do seu pé o instrumento afiado
e dizer:
-
Já que você quer brigar meu rapaz, vamos brigar.
Após
isso colocou em seu rosto um enorme sorriso, levantou o instrumento afiado em
direção ao cidadão e começou a caminhar lentamente atrás dele. Este mesmo passou
a gritar e em certo momento se escondeu.
Era
o fim. Ela havia perdido seu controle e paciência. De alguma forma ela tentou
se controlar, mas era tarde de mais para isso, tudo que ela pensava naquele
momento era em ver aquela coisa enfiada no pescoço do louco.
-
Onde você está? Por que está com medo de mim? Eu só quero conversar com você. -
Seunome disse, procurando pelo homem em meio as poucas árvores do parque.
De
repente ouviu um grito se virou e viu que alguém havia pulado em cima dela,
dando-lhe alguns golpes. Seunome começara a revidar, mas em um deslize o
agressor colocou suas mãos em volta do pescoço dela e começou a sufocá-la.
Ela
tentou gritar.
Tentou
revidar.
Mas
não conseguia.
Ao
contrário do que muitas pessoas dizem, ela não viu sua vida inteira passar
diante dos seus olhos, só viu uma cena. Em poucos minutos sentiu que não lhe
restava mais ar. Sentiu tontura, e então em um piscar de olhos tudo acabou.
~* ~* ~ *~ *~
Flashback
mode on :
Coloquei
meu melhor vestido. Era a primeira vez que tocaria para minha mãe depois de
muitas aulas de piano. Cinco aulas para ser mais exata, mas já havia aprendido
muitas coisas.
Era
um vestido rodado, com mangas curtas, dessas meio cheinhas. Era amarelo.
Amarelo sempre fora minha cor favorita, me lembrava a o Sol, e este me lembrava
que sempre haveria um novo dia, talvez melhor ou talvez não.
Sarah
olhou para mim com um grande sorriso e disse:
-
Esta linda, minha bonequinha.
-
Estou mesmo? - perguntei, um tanto preocupada.
-
Se estivesse mais seria perigoso.
Sorri
em resposta, e olhei para meus cabelos. Agora eram tranças, duas tranças.
-
Acha que vou conseguir tocar direito? - perguntei ainda preocupada.
-
Claro que vai, querida. - passou a mão em uma das minhas tranças - Você treinou
muito para isso; acho que está preparada. E além disso, sua mãe veio mais cedo
hoje só para lhe ouvir tocar.
-
Eu sei. - respondi quase que em um sussurro.
Sarah
terminou de me arrumar e saiu do quarto, me mandou esperar. Caminhei até a
janela e avistei uma casa amarela, por coincidência , senti um enorme vazio ao
observá-la. De quem era aquela casa?
-
Queria que você estivesse aqui. - sussurrei.
Minutos
depois eu não estava mais no meu quarto, onde estava? Ah sim, era a sala onde
ficava o piano. Caminhei até o piano e lá estava minha mãe, sentada na poltrona
ao lado do mesmo.
- Bonne journée Mlle. Eu disse a minha mãe, que apenas
respondeu com um aceno, depois continuei - Hoje vou tocar uma música especial
para você.
A
música que tocaria para ela eu havia ouvido em um filme, “A noiva Cadáver”,
aprendi a tocá-la e queria muito tocá-la para minha mãe.
Me
sentei e comecei a tocar. Por um tempo até me diverti com a música, e ela me
envolvia, podia senti-la. Mas depois de um tempo notei que minha mãe estava
chorando.
Chorando
sozinha.
Calada
em seu canto.
Parei
de tocar e caminhei até ela, me ajoelhei e disse:
-
Mamãe, tá tudo bem?
-
Sim... Volte a tocar, querida. - disse em meio as lágrimas.
-
Você não quer...
-
Já disse que estou bem, volte a tocar Seunome. - ela respondeu um pouco enfurecida.
Voltei
ao piano, mas não consegui me concentrar novamente. Apenas fiquei sentada,
esperando ela parar de chorar. De repente senti alguma coisa bater na minha
cabeça.
-
Eu falei para voltar a tocar. AGORA! - minha mãe disse, olhei para o chão e vi
que um de seus sapatos estava lá.
Ela
havia jogado o sapato em mim.
Voltei
a tocar imediatamente, mas por que ela estava chorando?
Eu
não sabia, mas não queria vê-la assim.
Flashback
mode off.
Seunome
acordou suada. Era tudo um sonho. Mas não era apenas um sonho, era uma lembrança em forma
de sonho. Olhou a sua volta e notou que estava em seu quarto, mas não se
lembrava de como fora parar lá.
Sentiu
que seu pé estava doendo, e resolveu olhar. Lá estava ele, todo enfaixado.
Então ela se lembrou da briga e tirou suas próprias conclusões sobre o
resultado.
-
Maldito. - Seunome sussurrou para si mesma.
Sentiu
um cheiro bom caminhar até seu quarto, parecia o cheiro do bolo de biscoitos de
Sarah. Ouviu seu estômago roncar, não havia comido ainda. Olhou no relógio e
eram cerca de 4:27 da tarde, ela havia ficado bastante tempo inconsciente.
Se
levantou com muita dificuldade da cama e caminhou para fora do quarto. Ouviu
algumas vozes vindo lá de baixo e resolveu descer, mas a escada seria um
desafio. Com apenas um pé seria difícil, mas ela tinha que conseguir.
Estava com fome e havia bolo na casa. Ela tinha que conseguir.
Desceu
cada degrau com muita dificuldade e, ao final da descida, sentiu seu pé
latejar. Caminhou até a sala de visitas, de onde vinham as vozes. Estacionou na
porta e esperou que notassem sua presença, o que não demorou muito.
Na
sala estavam seu psicólogo, um rapaz que ela não sabia quem era, delegado
Harris e o “Maldito”. Sarah aparecera minutos depois com uma bandeja na mão.
-
Finalmente acordou. - Senhor Lee - o psicólogo - disse.
Todos
olharam em direção a porta. Seunome não manifestou nenhuma emoção ou reação,
apenas esperou.
-
Sente-se aqui, Seunome, precisamos conversar. - Sarah disse apontando-lhe uma
cadeira.
Seunome
caminhou até a cadeira, calada, sentou-se e esperou. Sarah lhe serviu chá e
então a “reunião” começou.
-
Senhorita Allen, se lembra do que aconteceu? - O delegado interrogou-a,
mantendo o tom de voz calmo.
-
Sim. - Ela respondeu rapidamente.
-
E o que aconteceu? - Sarah perguntou curiosa.
-
Eu nasci. - Seunome respondeu sarcasticamente, embora parecesse séria.
-
Fale sério criatura, isso não é nenhuma brincadeira. - Sarah falou, brava.
-
Sei que não é, se fosse estaria me divertindo. - Seunome retrucou, secamente.
-
Pode por favor dizer do que se lembra? - Senhor Lee perguntou, calmamente,
assim como o delegado.
Seunome
acenou com a cabeça e contou os fatos de maneira resumida. Depois de um tempo
todos pareciam chacoalhar a cabeça e então o delegado disse:
-
Está bem, desta você se livrou. Sua história bate com a desse cara - Delegado
disse apontando para o desconhecido - E bate mais ou menos com a desse. Sabe,
se não fosse pelo Josh, você estaria morta. Não
pode mexer com quem tem transtorno de bipolaridade. - Delegado Harris
completou.
-
Ok. Obrigado, Josh. E... delegado; se eu não posso mexer com pessoas com
transtorno de bipolaridade, por que estas pessoas tem o direito de mexer
comigo? - Seunome perguntou intrigada.
Com
essa pergunta o rapaz desconhecido esboçou um leve sorriso no rosto,
discretamente.
-
Não tem, mas ninguém se importa se elas mexem com você, querida. Bom, de
qualquer jeito, ele não vai fazer queixa contra você e você não fará contra
ele. - bateu uma mão contra outra, como se isso desse o fim no problema e
disse: - vou embora e espero que não tenha que te ver mais, Senhorita Allen.
Seu serviço acabou.
Seunome
apenas ficou em silêncio. Assim, o delagado Harris e o “Maldito” partiram, sem
mais nem menos. Mas o tempo todo Seunome pensava "para que estão aqui?"
-
Bem, Seunome, espero que esteja satisfeita. Tem um furo enorme no pé agora. -
Sarah disse, ainda brava.
-
Claro que estou, adoro cicatrizes. Sinto como se tivesse estado em uma guerra.
- Seunome disse se esticando para alcançar o bule de chá.
-
Olha, quer saber?! Vou fazer bolo. Cavalheiros, fiquem à vontade. - Sarah disse
enquanto se retirava do ambiente.
Por
um tempo tomaram chá em silêncio até o senhor Lee dizer:
-
Seunome, vim aqui para fazer a seção de terapia por aqui mesmo, mas antes eu
gostaria de saber se posso ir no banco e voltar daqui a pouco.
-
Ninguém está te segurando. - Seunome respondeu com naturalidade.
O
homem acenou com a cabeça, levantou-se e se foi, Ficando assim Seunome e o
desconhecido na sala. Ele parecia um garotinho assustado, Seunome gostava
disso.
-
Te conheço? - Seunome perguntou.
-
Sou o cara da delegacia. - Ele respondeu rapidamente.
-
Ah, sim. - ela disse já recordando-se do rapaz. Depois prosseguiu - Como me
salvou?
-
Bem, não diria "salvar", eu apenas estava por perto. Vi ele te
estrangulando e tirei ele de cima de você.
-
Se isso não é salvar então não sei o que é. Mas seria bom demais para sociedade
se me deixa-se morrer. Eles não merecem isso, então, obrigada.
-
Acho que não. Você não deve ser um fardo total para as pessoas.
-
Na verdade sou, sim. Me dizem isso o tempo todo.
-
Só porque dizem não quer dizer que seja verdade. - Josh rebateu, dando mais uma
golada no chá, fazendo com que Seunome tivesse a famosa sensação
de dejavú.
-
Acho que começamos errado. Meu nome é Seunome Allen e o seu é...?
-
Josh. Josh Hutcherson.
-
Interessante.
Depois
de tal comentário, um silêncio constrangedor voltou a aparecer no ambiente. Ela
o conhecia de algum lugar. Mas de onde?